VERBAS PÚBLICAS NÃO MELHORAM QUALIDADE DA INDÚSTRIA BREGA-POPULARESCA

Daniela Adorno
5 min readMar 5, 2023

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BELL MARQUES (QUE NÃO É NEM AXL ROSE E MUITO MENOS MICK JAGGER), JÁ É UM DOS MAIS RICOS DA AXÉ-MUSIC E VERBAS PÚBLICAS NÃO O FARÃO MELHOR. O ‘’hype’’ do Carnaval de Salvador — um reality show ‘’musical’’, em contraste com o viável Carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo — é um dos efeitos dos investimentos públicos autorizados do Ministério da Cultura para eventos considerados “culturais”.

E isso criou uma situação surreal. Lula não lançou, em janeiro, o programa de combate à fome e à miséria, que era a obsessão política de alguns lulopetistas que, falando demais em democracia, não respeitaram o compromisso democrático da diversidade eleitoral da campanha de 2022, impondo Lula como “candidato único” e agredindo ou cooptando concorrentes.

Lula preferiu fazer viagens para blindar e promover sua imagem pessoal. O pior é que Lula não começou a governar em janeiro passado e, no entanto, seus apoiadores mais interesseiros elogiaram o “movimentado mês”. Houve quem delirasse e mentisse que Lula “começou bem” o governo. O que Lula fez foi apenas criar artifícios para se tornar notícia o tempo todo.

Daí que vemos o clima de hedonismo obsessivo no Carnaval de Salvador. Nem falo muito dos Carnavais carioca e paulista, porque eles são cenários de folia normais, sem o artificial evento soteropolitano, porque o clima parecia relativamente mais discreto em termos de publicidade. Ou melhor, os Carnavais carioca e paulista atuaram dentro dos parâmetros normais de eventos festivos feitos para cumprir o roteiro de festas e feriados, sem a pretensão de serem a “salvação da humanidade”.

Já o Carnaval de Salvador, até pelo fato da Ministra da Cultura fazer parte da indústria da axé-music, caprichou no pretensiosismo com as verbas públicas liberadas pelo ministério. Cada vocalista de axé-music era anunciado pela mídia como se fosse a “salvação do planeta”: Léo Santana, É O Tchan, Ivete Sangalo, Bell Marques, Durval Lélis, Psirico, Xanddy do Harmonia. Até Cláudia Leitte, que manifestou apoio a Jair Bolsonaro, se destacou nesse ‘’hype’’ carnavalesco soteropolitano de 2023.

O Carnaval de Salvador simboliza um astral superficial e artificial das aparências. É a farra oficial do Brasil-Instagram, das dancinhas do Tik Tok, do culto às subcelebridades, dos dialetos “portinglês”, do pretensiosismo, de um povo que confunde mainstream com “alternativo”, se acha diferente cultuando a mesmice e pensa que lacração vazia é sinônimo de “vanguarda”.

É um público que, através de seu terraplanismo cultural, inverte os conceitos de música comercial e música não-comercial. Acham que “não-comercial” é o que toca atualmente nas rádios popularescas que dominam as cidades de interior e periferias das capitais, enquanto que “comercial” é a banda antiga de rock clássico, Bossa Nova ou similares, cujos músicos se envolvem em alguma disputa judicial por algum espólio artístico. Daí esse nível de pretensiosismo, hipocrisia e alienação pelos quais cai bem a falsa atribuição da axé-music como um ritmo “vintage”, dentro da constrangedora “nostalgia de resultados”.

Aumentar os investimentos para o setor cultural, sem critérios cautelosos e levando em conta o sucesso comercial — mesmo quando seus ídolos já possuem um robusto suporte financeiro por conta da iniciativa privada — , não contribui para melhorar a “cultura” brega-popularesca. Dinheiro não compra talento, e o que vemos é apenas a mudança financeira dos ídolos brega-popularescos, que ficam ainda mais ricos.

O “funk” carioca sempre prometeu que “melhoraria” se mais grana fosse investida no gênero. Tudo conversa fiada. O “funk” carioca recebeu, desde 2002, zilhões de investimentos financeiros aqui e ali, das filiais de empresas estadunidenses até times de futebol cariocas, e houve também as verbas clandestinas do crime organizado, no caso dos “proibidões” ligados a facções criminosas que controlam favelas em várias partes do Brasil.

Nada ocorreu de evolução. O que se viu foi a mudança de uma mesma batida padrão de temporada em temporada. Hoje impera o som de batida de lata de conservas imitando percussão hindu, e os MC’s continuam tão medíocres, agora todos eles com voz de adolescentes com seu panfletarismo que, como sempre, gourmetiza a miséria, embora o aumento de verbas para a “cultura” tenha feito os fanqueiros mais ricos, e, em vez de melhorar o talento, compram mansões e bens luxuosos, incluindo muitas viagens internacionais, que a maioria dos axezeiros baianos nem sonham em fazer.

Culturalmente, o Brasil continua devastado. E é previsível que os lulopetistas se mantenham na mentira de que basta um vocalista fazer propaganda para Lula, que ele “tem valor popular’’. De Odair José a Pabblo Vittar, passando por Valesca Popozuda, Péricles etc, esses ídolos do brega-popularesco continuam e continuarão medíocres, com mais ou menos dinheiro, porque mais grana não os fará mais talentosos e geniais. Eles apenas poderão comprar bens de consumo melhores, mas musicalmente ficarão na mesma mediocridade de sempre.

Voltando a indústria da axé-music, a arrogância e megalomania dos axezeiros continua. Enquanto comparam Bell Marques aos rocks stars Axl Rose e Mick Jagger, os axezeiros ignoram completamente o palco do rock, que ocorreu nos dias do carnaval soteropolitano no bairro de Piatã e a apresentação de uma banda cover no pré-carnaval. Os axezeiros ignoram que a banda Guns N’ Roses já se apresentou em Fortaleza/CE e Recife/PE, enquanto até hoje, parece que a banda não é bem vinda na Salvador ainda controlada pela indústria da axé-music. Nem digo um show dos Rolling Stones em Salvador, aí já seria sonhar demais. Os mesmos axezeiros (incluindo feministas) não demonstraram a menor solidariedade e empatia pela mulher espancada no bloco do Bell Marques.

Manifestação no badalado bairro da Barra, onde a empresa responsável pelo pagamento montou a estrutura e estava pagando as diárias, no valor de R$60 aos cordeiros. Onde está a solidariedade e empatia dos ‘’chicleteiros’’ e lacradores a esses trabalhadores escravizados? Os ‘’chicleteiros’’ só querem saber de comparar Bell Marques a rock stars que são praticamente proibidos de se apresentarem em Salvador.

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Written by Daniela Adorno

Hi, I love writing texts about the influence of pop culture

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