Brotoejas na lacração — Segurança Pública
Segurança pública é um dos temas que provocam crises alérgicas em grande parte da esquerda brasileira dada a dificuldade histórica, desinteresse e incompetência em abordá-lo, jogando nas mãos da direita para reclamar depois. No poder ou fora dele, deixou-se enredar uma cultura permissiva focada mais na “explicação” das “causas sociais” e limitando-se a criticar a “violência e corrupção militar e policial” nas favelas do que se concentrar no combate ao crime organizado propriamente dito.
Até alguns blogueiros que brilhantemente criticam a indústria conservadora do brega-popularesco que é uma arma da direita adotada pela esquerda e também critica as várias lambanças da esquerda e seu ídolo Lula, insiste que nas favelas, o povo pobre só tem medo da violência policial, mas que não teriam nenhum medo da violência vinda dos traficantes. Essa cultura vem de longe. A célebre frase de Leonel Brizola: “No meu governo a polícia não sobe o morro”? Abençoando o poder paralelo nos morros e o sistema feudal do tráfico. Muitos esquerdistas são devotos a Brizola e acham que para admirar as qualidades do gaúcho, precisam passar pano nos seus erros. Com esse erro, Brizola conquistou um curral eleitoral nos morros. Outros esquerdistas falam que isso tudo é mentira dos conservadores e que Brizola só queria proteger o povo pobre dos morros dos policiais malvados.
Nos anos 70, a esquerda vibrou com o filme “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia” inspirado num livro de José Louzeiro. O “mocinho” era chefe de uma quadrilha de assaltantes de banco, deve ser porque assaltar bancos se tornou uma prática muito comum para arrecadar dinheiro para as guerrilhas, mas Lúcio Flávio foi endeusado como uma “vítima da sociedade” e do “aparato policial corrupto”. Glamourizado no cinema, na vida real Lúcio Flávio colecionava 530 inquéritos por roubo, assaltos e estelionato. Lúcio Flávio dizia que ‘’polícia é polícia, bandido é bandido’’.
Facínoras exerceram certo charme sobre o beautiful people carioca, como se fossem Robin Hood dos morros. O resgate cinematográfico de Escadinha da prisão de Ilha Grande deixou muita gente fascinada. Conveniente lembrar que o “boom” da Rocinha como “point” cultural e artístico do Rio de Janeiro se deu no reinado do traficante Nem, outra “vítima da sociedade”. Assim como era moderno e descolado na esquerda Zona Sul subir o Morro de Santa Marta, nos tempos do “Abusado”, livro de Caco Barcelos que aborda a ótica do “Poeta” (como era conhecido outro traficante famoso, o “Juliano VP”). Bailes de pancadão financiados pelo tráfico e também para lavagem de dinheiro do tráfico foram transformados em “manifestações culturais’’ do povo pobre das favelas. E ainda hoje a galera descolada micareteira da esquerda sobe o Vidigal para para um happy hour. Passam indiferentes às casas pichadas que escancara a violenta disputa entre bandos para disputar as bocas de fumo.
Este assunto deixa famosos descolados e muito ricos, intelectuais pró-brega e políticos de esquerda com os rostos cheios de alergia. A reação alérgica não se dá apenas por motivo cultural. É também ideológica. O divã ainda não levou a nossa esquerda a superar o trauma de 64 e essa gente rica e influente nunca precisa de terapia, só seus subalternos sem status e sem dinheiro. Muitos militantes proporam o monitoramento da ação policial por supostas “lideranças da comunidade” e o combate à violência por meio do “lápis e não do fuzil”, este último deixa para os ‘hobin hood’. Se quiser ter chance eleitoral, Marcelo Freixo vai ter de tratar de suas brotoejas.