A ANEMIA DE SHOWS INTERNACIONAIS EM SALVADOR (E RESTANTE DO NORDESTE)
Enquanto o poder público não abraçar essa ideia de transformar Salvador em um cidade importante no circuito dos grandes shows internacionais, nada vai andar. É preciso ter planejamento governamental mesmo disso. Visão. Não dá pra ser um esforço de uma ou outra empresa privada.
Isso nunca seria gasto e sim investimento. A maioria desses políticos/empresários/subcelebridades locais dessa ‘’monarquia’’ que todos conhecem muito bem qual é, que é a indústria da axé-music, sabem muito bem que shows internacionais em Salvador é um grande investimento, mas induzem a população, incluindo gente ‘’bem instruída’’ a acreditar cegamente que ‘’todo mundo’’ só quer saber de micaretas em Salvador. E uma mentira contada mil vezes se torna uma ‘’verdade’’.
Falando nisso, uma vocalista de axé-music tem produzido um show de uma grande atração internacional em São Paulo, no qual ela mesma abrirá o show. Mas ela mesma não tem o menor interesse em realizar o mesmo evento em Salvador, pois segundo ela e seus seguidores, em Salvador ‘’oxente, o povo aqui da Bahia só quer axé, axé, axé, axéééééééé…’’.
Temos também uma antiga e cafona elite oligárquica soteropolitana que só se interessa em se exibir ostentando no carnaval naquele camarote luxuoso do final do circuito Barra-Ondina. Uma elite cafona que idolatra Bell Marques e os axezeiros globais e que sempre fez cara feia quando se trata de shows de Rock e de pop nacional/internacional. Ainda tem a TVE que antigamente era tão alternativa e hoje se tornou uma emissora escrava do brega-vintage dos anos 90.
Apesar de que esse ‘’império’’ ditador da axé-music ter se iniciado com o Carlismo, o próprio lulopetismo (apesar de se fazer de ‘’crítico’’ ao Carlismo) sempre blindou a indústria da axé-music de críticas e adotou a indústria da axé-music como uma forma de manter a alienação da população baiana e fortalecer seu curral eleitoral na Bahia.
Uma vez que, com grandes shows internacionais, se movimenta muito a economia local… ocupação dos Hotéis, restaurantes ficam lotados, os serviços de transporte, pontos turísticos… tudo é beneficiado de forma direta. Uma cadeia enorme se beneficia e não só da capital, mas também da região metropolitana.
O que se aporta com patrocínio direto volta com lucro para os cofres públicos. Dos ambulantes que vendem lanches e souvenir na porta do local do show (que não seriam dependente apenas da indústria do carnaval para vender cerveja e da ‘’ocupação’’ exploradora, escravizante e humilhante de cordeiro de bloco), a produtora do show, passando por todos os contratados e essa cadeia toda de serviços… todo mundo se beneficia.
Até mesmo a segunda maior cidade do estado e relativamente próxima da capital, Feira de Santana, se beneficiaria com isso, pois com Salvador se tornando rota de grandes shows e eventos internacionais, Feira de Santana receberia mais eventos e shows nacionais de grande porte. Até o também anêmico ‘’aeroporto’’ de Feira de Santana teria mais utilidade e mais opções de voos.
Mas como foi dito no decorrer o texto, para melhorar pelo menos um pouco essa situação debilitada e precária, isso é uma iniciativa que deve ser compartilhada com o poder público, com a população, não apenas com a iniciativa privada. Essa última também precisa de estímulo para investir e afirmar que ‘’em Salvador todo mundo só quer saber de AXÉ, AXÉÉÉÉÉÉÉ…’’, o que é mentira, só mantém e agrava essa debilidade. Se continuar assim, Salvador, nunca terá um patrocínio para investir num Classic Hall de Recife, como o Vivo Rio, Arena Jeunesse, num Espaço Unimed, etc.
Segundo uma matéria da revista Rolling Stone, é ‘’desvantagem’’ logística ter show no Nordeste porque está ao lado contrário dos outros países da América do Sul como Argentina e Chile, duas rotas de shows tradicionais além do Brasil. Mas se a Bahia fosse um país como a Argentina e Chile, deixariam de vir apenas porque está do lado oposto ao centro-sul do Brasil? O RHCP vai se apresentar na Costa Rica unicamente na América Central e depois vir para o Brasil, se a Costa Rica fosse uma unidade federal, provavelmente não receberia um show do RHCP.
A população da Bahia precisa se libertar da indústria monocultural da axé-music, precisa questionar do por que Salvador tem perdido tantos habitantes, do por que os empreendedores baianos estão entre os mais endividados do país, em vez de simplesmente achar que a solução de tudo é todo mundo vender lata de cerveja no carnaval de Salvador, virar ‘’concurseiro’’, um ‘’socialite’’ (para os poucos) que ostenta nos camarotes do final do circuito Barra-Ondina e no caso da maioria, um eternamente axezeiro bêbado de olhar e andar perdidos e vazios.